Pesquisas e experiências clínicas mostram que extratos artesanais com THC acima de 0,3% oferecem melhor resposta terapêutica em casos como epilepsia, autismo e dores crônicas.
A limitação legal do teor de THC nos óleos de cannabis ainda é um dos grandes entraves para o avanço do tratamento com a planta no Brasil. Enquanto os reguladores mantêm o limite próximo de 0,3%, a ciência e a prática clínica apontam na direção oposta: é o equilíbrio entre os compostos que garante os melhores resultados.
Esse equilíbrio tem nome. É chamado de efeito entourage — ou efeito comitiva —, e representa a interação entre os canabinoides (como CBD e THC), os terpenos e outros compostos presentes na planta. Juntos, esses elementos criam um efeito terapêutico mais amplo e eficaz do que atuariam isoladamente.
O que a ciência já sabe
Estudos conduzidos nas últimas duas décadas por instituições como a Universidade Hebraica de Jerusalém, USP Ribeirão Preto e McGill University demonstram que:
- A presença controlada de THC melhora a resposta ao tratamento em condições neurológicas resistentes;
- O CBD, quando isolado, tem eficácia limitada em quadros complexos;
- A interação entre CBD e THC reduz efeitos colaterais e amplia os benefícios clínicos.
A prática confirma. Muitos pacientes relatam que só encontraram alívio quando passaram a usar extratos com THC acima dos limites atuais. Esses relatos se multiplicam especialmente entre famílias com crianças autistas ou pessoas com epilepsia e fibromialgia.
A experiência das famílias
Na BrisaLuz, histórias assim são comuns. Mães que viram seus filhos deixarem de convulsionar, pacientes que voltaram a dormir e pessoas que reconquistaram autonomia.
“O óleo que só tinha CBD não ajudou. Com o extrato mais completo, meu filho parou de se agredir e voltou a interagir”, contou uma associada.
Não se trata de opinião isolada. São experiências repetidas em todo o país, principalmente nas associações que realizam extração artesanal com controle e acompanhamento.
Segurança e supervisão
O uso medicinal do THC é seguro quando feito com responsabilidade. Em extratos diluídos em azeite, em doses definidas por médicos e respeitando o histórico de cada paciente, o risco de efeitos psicoativos é mínimo — e, muitas vezes, inexistente.
Além disso, o THC tem propriedades importantes no controle da dor, do sono e da ansiedade. Limitá-lo por completo é, na prática, limitar o potencial terapêutico da cannabis.
Uma escolha entre medo e cuidado
A regulação da cannabis medicinal no Brasil ainda está sendo construída. Mas, enquanto isso, famílias seguem dependendo de decisões técnicas, não ideológicas. É nesse ponto que o efeito entourage precisa ser considerado.
A planta oferece seus benefícios quando usada como planta. Inteira. Viva. Equilibrada.
A ciência já entendeu isso. O próximo passo é que a legislação acompanhe.