Mesmo sob prescrição e controle, extratos artesanais com mais THC seguem na ilegalidade. Ciência, compaixão e pragmatismo estão no centro desse debate ignorado pela regulamentação.
Enquanto o Brasil ainda engatinha na regulamentação da cannabis medicinal, um tema específico tem mobilizado médicos, familiares e associações de pacientes: o limite máximo de THC permitido nas formulações. Atualmente, a Anvisa restringe o teor de THC a 0,2% nos produtos de venda em farmácias. Mas será que esse limite realmente atende às necessidades clínicas de quem mais precisa?
Uma limitação mais política do que científica
“O que assusta a lei, alivia a dor do paciente.” A frase resume o dilema enfrentado por quem utiliza óleos artesanais com teores de THC acima do permitido. Embora o tetrahidrocanabinol (THC) tenha sido historicamente demonizado por seu efeito psicoativo, a ciência já reconhece suas propriedades analgésicas, anticonvulsivantes e relaxantes.
Para casos de autismo severo, epilepsia refratária, dor crônica e ansiedade extrema, o THC não apenas potencializa o efeito do CBD, como se torna fundamental para o alívio real dos sintomas. O fenômeno é conhecido como efeito comitiva (ou entourage effect), em que os compostos da planta atuam de forma sinérgica.
O que dizem os pacientes?
Em todo o Brasil, associações de pacientes relatam melhoras significativas com extratos integrais — mesmo quando os testes laboratoriais apontam teores de THC acima de 0,3% ou até 1%. Em muitos casos, essas associações atuam sob liminares ou em desobediência civil, produzindo artesanalmente para atender a uma demanda legítima e urgente.
“Meu filho só dorme com a fórmula completa. A isolada não dá conta da agitação, do choro, da dor”, afirma uma mãe associada à BrisaLuz, sob anonimato.
Base científica sólida
Estudos de países como Israel, Canadá e EUA mostram que o THC, quando usado com controle de dosagem e acompanhamento médico, apresenta eficácia clínica significativa para diversas condições. Não há, até o momento, justificativa científica suficiente para a imposição de um teto universal tão baixo.
O que falta, segundo especialistas, é uma abordagem individualizada, que respeite as particularidades de cada caso — e o direito à escolha terapêutica do paciente.
O que defendem as associações?
O movimento de associações de pacientes não pede liberação irrestrita. O que se reivindica é flexibilidade regulatória para permitir fórmulas com teores de THC adaptados às necessidades clínicas, sob prescrição e com controle de qualidade.
“É possível conciliar rastreabilidade, segurança e eficácia. A proibição absoluta não protege ninguém. Só marginaliza quem cuida”, afirma um médico prescritor consultado para esta matéria.
Conclusão
Regulamentar com base na ciência é ouvir não apenas os laboratórios, mas também os lares. O aumento do limite de THC nas formulações artesanais não é um pedido ideológico. É um clamor de quem convive com a dor todos os dias.
Na BrisaLuz, acreditamos que a ciência precisa caminhar ao lado da compaixão. E que o verdadeiro remédio é aquele que funciona.
📌 Serviço – Fontes e referências
- ANVISA – RDC nº 327/2019: dispõe sobre os procedimentos para a concessão da autorização sanitária para fabricação e importação de produtos de cannabis no Brasil.
- National Academies of Sciences (EUA): The Health Effects of Cannabis and Cannabinoids (2017).
- Israel Medical Association Journal: artigos sobre uso clínico de formulações com THC.
- Revista Brasileira de Neurologia: estudos de caso sobre epilepsia refratária tratada com óleo integral.
- Relatos internos de associações brasileiras de pacientes, sob confidencialidade.
- Consultas a médicos prescritores e cuidadores de pacientes com autismo e dor crônica.
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